quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Dois apartamentos (e uma sepultura)

- “E aí? Como vai?”
            Ia responder quando alguém interrompeu para falar qualquer coisa.
            Voltou: - “Tô mal, bicho. Tô fodido.”
            Quis saber: -“Como assim? Me parece ótimo!”  
            - “Pois é. Fiz uma viagem, quando voltei fui ao médico. Diabetes, hipertensão, colesterol nas alturas.”
            Quis demonstrar uma cumplicidade na desgraça: - “Bobagem. Eu mesmo estou com hipertensão leve, intolerância à glicose e triglicérides acima do normal.”
            - “É o meu caso, mas a doutora não quis saber: passou remédio pra tudo.”
            Sugeri mudanças no estilo de vida e na alimentação: - “Começa uma atividade física regular e muda a alimentação que tudo melhora.” Completei: -“E vê se diminui o trabalho, né?”
            Respondeu: -“Tirei férias e vou substituir a mim mesmo nas férias.” E concluiu resignado: -“Não tenho tempo pra nada."
            - “Estás maluco! Vai descansar, rapaz!”
            - “Tô pagando dois apartamentos.”
            Meneava a cabeça enquanto se sentava numa cadeira próxima. Ia se derreando e dizendo, numa dessas constatações irremediáveis e fatais: -“Tô mesmo fodido!”
            Saí fulminado por sua certeza: o homem está mesmo fodido. 

2 comentários:

  1. As pessoas chegaram a tal escravidão e nem se dão conta disto:escravos do trabalho e do tempo,escravos de um consumismo sem fim e de tantas necessidades fictícias e reais...temos que reaprender o que é viver.

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  2. Concordo com o comentário da Edwiges.Cobertíssima de razão.

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