quinta-feira, 17 de março de 2011

Dá logo esse bicho, menina!

             Uma das definições do Aurélio para a palavra algoritmo é “série fixa de tarefas, ações, raciocínios etc., que, realizados passo a passo, levam a determinado resultado”. A palavra redunda do antropônimo árabe Al Khuwarizmi (Abū ‘Abd Allāh Muhammad ibn Mūsā al-Khuwārizmī), matemático, astrônomo, astrólogo e geógrafo persa considerado um dos fundadores da Álgebra. Ele viveu entre os anos 780 e 850 da era cristã. O homem apresentou a primeira solução sistemática das equações lineares e quadráticas, e foi o primeiro a escrever sobre a álgebra. Devem-se também a Al Khuwarizmi um tratado de geometria, tábuas astronômicas e outros trabalhos em geografia. Al Khuwarizmi foi um dos astrônomos que participaram da operação geodésica mais delicada de sua época, a medição do comprimento de um grau terrestre, isso já no século IX. O objetivo era determinar, na suposição de que a terra era redonda, o tamanho desta e sua circunferência. A operação, realizada na planície ao norte do Eufrates e também perto de Palmira, indicou 91176 metros como comprimento de um grau do meridiano, um resultado extremamente acurado, pois excede o comprimento real do grau nesse lugar de apenas 877 metros (o valor correto é 90299 metros), uma precisão de 99,03%. Ele é considerado até hoje uma das maiores capacidades científicas do islã. (Dados da Wikipédia) Vê-se, então, que o homem não foi pouca coisa. Pois bem.
            Vejam como são as coisas. Alguém – ainda não se sabe quem, mas suspeita-se de um espécime feminino – elaborou um belíssimo e bem pertinente algoritmo cuja “série fixa de tarefas, ações,...” pretende levar uma mulher a “pegar” um homem. “Pegar”, entenda-se, é o mesmo que “conquistar”. Bem claro fica que a matemática é uma ciência fantástica, para a qual muitos não reservam simpatia. Uma grande perda de tempo e oportunidade, como bem se pode concluir do valoroso e útil algoritmo. O que é incrível é a simplicidade do negócio. De fato, o algoritmo serve a exatamente isso – simplificar. Vejamos, a título de exemplo, algumas de suas seqüências. O algoritmo é sintético; seremos agora analíticos.
Digamos que uma mulher quer “pegar” um homem. Tudo o que ela tem a fazer primeiramente é escolher “o” homem.
Nem comecei e já vou parando. Encontro de cara a dificuldade inicial da pobre donzela, que, infelizmente, o algoritmo não resolve. Não conheci – ainda – nenhum outro algoritmo que ensine a mulher a escolher qual homem ela deva “pegar”. A linda e estonteante donzela terá que ter algum critério, qualquer um que seja, que a indique qual homem quer. Não entrarei nas reentrâncias que possam dizer respeito a tal questão. Sabemos que a donzela quer um homem lindo, rico, inteligente e que lhe rasteje aos pés. Como o preenchimento simultâneo de todas essas exigências é mais difícil do que encontrar a solução de uma equação do nono grau no conjunto dos reais – e aqui nem o Al Khuwarizmi pode ajudar –, ela há de escolher qual mais importante característica a vítima, digo, o homem terá de carregar a fim de ser objeto de escolha da princesa desgarrada.
Escolhido o homem – e aqui já estamos nos passos iniciais do algoritmo – ela precisa, em primeiríssimo lugar, responder a si mesma a uma incômoda pergunta: “eu quero ‘dar’?” (Nem preciso esclarecer o que esse “dar” significa. Mantenhamos a compostura.) Se a resposta for sim, atinge-se de imediato o resultado pretendido. Se a resposta for “não sei”, a donzela estará prestes a entrar pelo labirinto que representa o algoritmo.
Percebe-se logo uma pouco justa intenção do algoritmo. Ele não dá chances nem ajuda à dondoca que não quer “dar”. Ele não contempla essa possibilidade. Daí porque já me ocorre a seguinte indagação: há mulher que não queira “dar” e que queira “pegar” homem? Se há, eis aí o algoritmo que não lhe serve. Se não há, por que existe a dúvida de algumas delas? Diremos de outra forma. Se há dúvida, tal dúvida não se refere a “dar” ou não – se refere a se escolheu o homem certo. Se tem certeza que escolheu o homem certo, há de querer “dar”! Se não “der”, é só de birra, receio que a presa lhe escape tão logo se de(le)ite com a dondoca. Sugiro, então, que se elabore outro algoritmo que a ajude a decidir quando, em que momento, em que lua irá “dar”.
Vejam que se a resposta for “não sei” parece que o próximo passo depende somente e tão somente da sobriedade do escolhido. Se estiver bêbado, ela “pega” sem “dar”, mas “pega”, e isso demonstra que há, sim, quem queira “pegar” sem “dar”, certo? Errado. Se o cara está bêbedo e ela “pega” é porque quer “dar” mesmo – nunca conheci uma mulher que gostasse de bêbado.
Assim, a que não sabe se quer “dar” acaba se decidindo a “dar” ao longo das “tarefas, ações e raciocínios” dentro do algoritmo.
A lição que se tira do safadíssimo processo? A que já estamos carecas de saber – como é complicada a dondoca! Dá logo esse bicho, menina! 

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