Há bastante tempo se denuncia a situação caótica das emergências através da mídia. Visitas e reuniões foram realizadas por entidades como Ministério Público, Assembleia Legislativa, Câmara dos Vereadores, OAB, Sindicatos e Conselhos de classe. Na prática, porém, nada se alterou. Os hospitais terciários continuam levando nas costas a saúde de um Estado. Eles se mantém superlotados com idosos, crianças, homens e mulheres em corredores mal cheirosos, deitados em macas duras e frias, sem privacidade, sem direitos, sem carinho e sem amor. Sobrevivem entre os excrementos dos seus vizinhos. Muitos se consideram felizes por estarem ali. Pior para quem não conseguiu entrar, dizem alguns, pois morreram na porta ou no transporte. Viajaram 300, 400 km para morrer ou sofrer na Capital.
Onde estão os direitos humanos desses cidadãos? A equipe de saúde composta por médicos, enfermeiras, auxiliares e outros também se sente exausta, maltratada, cruelmente massacrada, sem dignidade, sem segurança, sem nada. São ofendidos, fisicamente agredidos e psicologicamente torturados. A quem mais devemos solicitar ajuda? Dá-nos a impressão que os órgãos são lentos ou talvez insensíveis com tal estado de coisa. E no fim de tudo, ninguém é culpado, ninguém se sente culpado. Dizem que tudo está bem, vivem de um futuro que nunca chega. Fazem isso, aquilo, mas na emergência dos hospitais tudo permanece inalterado. Sabe de quem é a culpa? É minha. É minha, pois como cidadão, aceito calado, não grito, não explodo, apenas choro, sou conivente. É minha, pois como médico aceito e permaneço trabalhando nesse inferno, pensando poder modificá-lo.
Talvez consiga apenas perpetuar o horror. É minha, pois como cristão, sou frágil e falho, não tenho coragem de seguir realmente a Cristo, pegar aquele chicote e dizer: "Meu Deus, gente não é para ser tratado como bicho! Gente é outra coisa, precisa de leito e remédio, precisa de atenção, carinho, precisa de um médico que lhe dê atenção". Estou cansado de ver tanta maldade e insensibilidade para com os nossos irmãos. Lutei e continuo a lutar em várias frentes e pouco consigo fazer. Até quando?
FREDERICO ARNAUD - presidente da Abramede
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