terça-feira, 25 de junho de 2019

O SUJO E O MAL LAVADO

A menos de um mês do dia da eleição da chapa que administrará a Unimed Fortaleza acirra-se a campanha. Contudo, é lamentável o modo como se faz esse acirramento. De lado a lado divulgam-se números, dados, estatísticas, cifras. Nós, que não temos acesso à verdade verdadeira, seguimos vitimados por tantas e tantas informações divergentes a atender ao interesse do autor do texto ou do panfleto. Se de autoria da situação, os números são o retrato de uma cooperativa saudável, viçosa, pujante. Se de autoria da oposição, os números mostram a incompetência, o desmando, a inflação do quadro de funcionários, o favorecimento, a cooptação de setores, os salários elevados e injustos.
            Por outro lado, sempre ouço comentários a denegrir este ou aquele componente de uma chapa e de outra. Um ou outro estará, neste exato momento, sofrendo a execração impiedosa e implacável por parte de alguém. Ninguém há de escapar a este crivo agudo e penetrante da opinião alheia. Boatos e verdades maquiadas são propalados e propagados aos quatro ventos sem o menor pudor. Na busca por um santo difama-se, acusa-se, aponta-se com a crítica maldosa e muita vez destituída de lastro e substrato no mundo real dos fatos. E não se acha o santo. Não há santo. Nem mesmo um candidato à espera da canonização papal. E nós, eu em primeiro lugar, a confessar a completa ignorância para entrever a verdade de todos os números e fatos e fotos e balanços.
            Diante de tantas dúvidas venho propor a nós, os ignorantes, os puros de coração, os que querem ser justos, os que já nada querem a mais da vida, nem nada querem de projetos que não nos pertencem, uma reflexão simples. Simplificar e sintetizar é a palavra de ordem do momento, posto que há que se ter muita calma nessa hora. Há momento para a análise e há momento para a síntese. Este é um momento para a síntese. A síntese é o corolário de todo um conhecimento, de toda uma impressão, de todos os sentimentos que nos invadem como um tsunami. Podemos até não saber a verdade dos fatos, mas somos capazes de farejar como um cão treinado os maus odores da decomposição de certas idéias.
            Se não há santos nem há quem preste segundo o julgamento daqueles que se pensam a fina flor da justiça, da equidade e da temperança, amparemos nossa ignorância em princípios e em idéias. Sim, porque se não há quem preste, é provável que também nós não sirvamos para julgar caracteres e reputações. Não estamos aptos. Nenhum de nós. E nesse instante, invoco a que nos socorramos nos princípios corretos e nas idéias que deles emanam, para que não nos deixemos contaminar por outras que exalam olores intragáveis. Se não podemos escolher entre seres tão imperfeitos, já que estamos à busca do santo que não existe, e se nosso parâmetro para embasar nossa escolha é movediço como a areia do pântano, seguremo-nos a uma idéia que nos aplaque a tormenta que assombra nossa consciência.   
            Assim, compete a cada um de nós identificarmos as idéias políticas nefastas que permeiam as discussões e textos e discursos. Compete a cada um de nós contrapormos tais idéias aos princípios corretos que regem as interações humanas e suas instituições. E compete a nós votarmos embasados nestes princípios. Caso contrário continuaremos a soçobrar no mar da insensatez e a fomentar o ranço que permeia uma classe médica já combalida e distante de si mesma.

Fernando Cavalcanti, 07.01.2010 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O NARCISO DO MEIRELES

Moravam numa bela casa no Parque Manibura.  Ela implicava com ele quase que diariamente. Era da velha guarda, do tempo em que o homem saía c...