terça-feira, 25 de junho de 2019

UMA PROMESSA DE CASAMENTO

uma amiga, com sua mais recente dúvida sobre se casa ou se não casa, fiz uma promessa de casamento. Vamos com calma que o assunto é muitíssimo espinhoso.
Tranqüilizo àqueles que já me imaginam contraindo novo enlace que o caso não me envolve. A promessa que fiz à amiga não inclui desposá-la, mas escrever algo sobre o casamento. O título ficaria enorme – uma promessa de escrever sobre casamento – e por isso o abreviei. Dele amputei as palavras escrever sobre e então ficou uma promessa de casamento. De qualquer forma, como é ela a “vítima” de uma promessa de casamento por parte de certo varão vigoroso, o cabeçalho acabou por adequar-se ao conteúdo.
Um latagão das bandas do sul, em viagem por essas paragens, conheceu minha amiga. De fato encantou-se primeiramente com outra amiga, ou encantou-se com ambas, já que estavam juntas à hora das apresentações. Apressadinho, já dava piruetas na pista de dança abraçadinho à primeira. Quero crer que já também trocavam selinhos e dali a pouco uns ferozes beijos de língua. No tempo da vovó a cena seria descrita como “uma pouca vergonha!”. Hoje não existe mais essa pouca vergonha e o resultado é a evolução rápida de tudo quanto se arrastava, no passado, para acontecer.
Confesso que sou desconhecedor dos detalhes mais recônditos da permuta do interesse por parte deste rapaz, mas o fato é que se desinteressou da primeira e interessou-se na outra, justamente a amiga da promessa. Tudo na paz das pessoas civilizadas, com a anuência de todos após consulta prévia.
Resumamos a prosa que há gente que já desiste de ler à metade da matéria. Minha amiga e seu novo namorado estão a cruzar os céus do país a todo fim de semana para namorar. Eis aí tudo. E mais: consta que o varão está doidinho da silva para casar. Ao que se sabe, seria sua primeira vez, mesmo sendo ele já homem maduro, quase podre. (Aqui no Ceará há um adjetivo bem apropriado para esse tipo maduro que nunca casou, e que foneticamente deve ter sua pronúncia respeitada: rapaz “véi”.) Pois bem: o noivo (noivo?) de minha amiga é rapaz “véi”. Nunca casou. Não tem filhos. Está “encalhado”.
O que importa é que o casal está, como já disse, cruzando os céus do país para namorar. Voam todo fim de semana para se encontrar. Quando não é ele, é ela; quando não é ela, é ele. Tanto romantismo e sacrifício suscitam invejas e ciúmes mil.          
Sabe-se que quando há que se propagandear uma coisa, qualquer coisa, basta que se ponha alguém influente a dizê-la. Dou um exemplo. Há algum tempo, numa propaganda de um produto, puseram o Pelé a dizer: “É o povo quem diz, e vocês sabem – a voz do povo é a voz de Deus.” Ficou, então, como a quarta lei de Newton que a voz do povo é a voz de Deus.
A caterva não perdoa. (A caterva é o povo.) A falação, nesses casos, ganha ares de certezas e julgamentos sumários. O que diz a caterva? Diz de tudo um pouco. Diz que o homem é doido; diz que o homem é pederasta; diz que o homem é de difícil trato; diz mais um monte de coisa que nem vale a pena comentar, só porque aos quarenta e poucos anos nunca foi casado. O que a caterva não diz é justamente de seus ciúmes e suas invejas. A caterva não confessa seu pecado. E com isso a caterva prova que sua voz nem de longe é a de Deus. (O povo dizia: -“Crucifica-o, crucifica-o!”)
Deixemos de lado o que diz a súcia mal intencionada e passemos ao objeto desta prosa, a de escrever sobre o casamento.  
Dirão – a súcia é fogo! – que ao que muito casa falta algo ou é problemático tanto quanto o que nunca casou. Eu direi apenas que hoje se casa mais vezes por uma permissividade perigosa, e antigamente se casava uma só vez sob a crucifixão da mulher. E por quê? Simples. O casamento é uma instituição do Senhor, não do homem. É uma instituição sagrada e criada por Ele. Na medida em que se o “humanizou”, se o fez menor e propenso ao fracasso.
Vejamos. O casamento requer submissão, mansidão, resignação, renúncia e doação que geram felicidade e realização. Nada disso á possível ao homem sem a benção e a presença do Senhor. A instituição requer o homem e a mulher renovados e em íntima comunhão com a divindade. Deixados à própria sorte – humanos, egoístas e perversos - fracassam. Não há possibilidade humana na instituição divina. Eis aí a explicação de tudo.
À amada amiga um alerta: se não for no Senhor, melhor continuar o namoro. Caso contrário, o resultado é previsível. Vai precisar mesmo é de grana a financiar o luxo de se namorar à distância.

Fernando Cavalcanti, 04.01.2011

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