terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

DANAÇÕES DO BAXIN

Não sei se sabem, mas o amigo Gaudêncio inventou outra viagem, um cruzeiro. Digo cruzeiro, mas poderia dizer um stopover múltiplo com cruzeiro misturado, ou coisa que o valha. O fato é que pegaram o avião em São Paulo e desceram em Dubai 14 horas depois. Passados alguns dias, embarcaram no navio rumo ao extremo oriente. Lá de Xangai, na China, outro avião, dessa vez de volta. Foi mais ou menos isso. Se foi mais, acrescentem; se foi menos, subtraiam. Mas que o esticão foi esticado, isso foi.
Uma penca de gente, mais de oitenta viajantes, só no grupo do Gaudêncio. Pois foram aí incluídos o Mesquita, sua mulher e o filho; o Baxin e a mulher, além do próprio “anfitrião” com a mulher e os filhos. O Mesquita, ressalte-se, diminuiu em muito os acompanhantes, já que o homem até há pouco só viajava levando os parentes de primeiro, segundo e terceiro graus, além dos aderentes. Dessa vez até o cachorro ficou. Uma coisa inusitadíssima! ...
O Baxin... bem, o Baxin merece um comentário à parte. A propósito, não sei se conhecem o Baxin. Ele é meu compadre. Isso bem diz da nossa amizade. Direi que o Baxin também tem seus cachorros. Deixou-os aos cuidados da sogra. O cachorro do Mesquita, digo, o bichinho de estimação do Mesquita ficou aos cuidados do Serjão, que, atualmente, dirige um pet hotel. Assim, o Mesquita gastou um dinheirinho com seu pet, ao passo que o Baxin não fez despesas com os seus, a menos que a sogra lhe tenha cobrado os serviços prestados. Ora, se o negócio do Serjão é hospedar e cuidar dos bichos alheios, que bem receba por isso. Amigos, amigos, negócios à parte, é bom lembrar.
Voltemos ao Baxin.
O Baxin é... digamos... o Baxin é do mato. Dito de outra forma, Baxin é um sujeito simples, que se contenta com pouco, gosta do Roberto Carlos e detesta o Wilson Simonal, aprecia a serra, o interior e a praia, enfim, gosta das coisas comuns do dia-a-dia. Diria que gosta de tudo o que está mais à mão. Um exemplo para demonstrar o que digo é o seguinte – o homem estava em Hong-Kong e sentia saudades escorchantes de Ceará-Mirim. Dias antes de viajar havia estado lá e fizera fotografias e filminhos da procissão comemorativa da padroeira do município seguida por duas dezenas de nativos contritos. Ato contínuo, fez mais filminhos e fotografias do mercado municipal repleto da gente simples a dançar e se divertir ao som de “Eu Não Sou Cachorro, Não”, do saudoso Waldick Soriano. Inclua-se aí uma penca de contumazes e ferozes paus-d’água a contribuir com a algazarra... Percebem o que digo?
Mas há mais sobre o amado amigo. Como direi...? Bem... o amigo gosta de “se danar” ou, de outra forma, ele é um “menino danado”. Ocorre que ele não é mais menino – tem 57 – e, como não é mais menino, a danação que ele faz é aquela que fazem os varões vigorosos. Pois, digamos logo de uma vez, o Baxin resolveu, poucos dias antes do embarque rumo à lonjura do oriente, “se danar”. O diabo é que a mulher o flagrou em suas traquinagens e prometeu, irredutível: – “Com você num viajo mais!”
Devo dizer que há uma opaca nuvem a encobrir os detalhes desses lamentáveis fatos, os quais em breve elucidar-se-ão com o dispersar dessa escuridão temporária, mas o que se sabe é que a mulher do Baxin acabou viajando com a promessa de que não arredaria pé do navio, e que não desceria em nenhuma das cidades programadas a serem visitadas. Ele que se virasse sozinho, ora essa...
Aos dias de hoje, tudo se sabe, tudo se vê, tudo se constata, e o que se constata nas fotografias retiradas durante o périplo é que o casal lá estava juntinho, fazendo fotos de rostinho colado e tudo mais. Ao que parecia, Baxin havia conseguido ser perdoado pelo que quer que tenha feito de danações. Na rede social deixou escapar o mote, numa de suas inúmeras queixas sobre os gastos que estaria tendo: – “Dei-lhe um colarzinho de ouro...” O homem saiu daqui já antevendo a necessidade da recorrência ao vil metal para a solução desse incômodo vacilo – dispunha de quinze mil dólares a entupir-lhe os bolsos.
O que estou sem entender até agora são as queixas revoltadas do homem sobre o preço da cerveja: –“Dez dólares uma long neck!” E emendava colérico: – “Um absurdo! Um absurdo!” Também, pudera... Eita cervejinha cara da muléstia!

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