sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

UMA AJUDA PRO POBRE INCAPAZ...?


Outro dia me ligou o Padilha. Estava desaparecido há um tempo, muito tempo. Talvez fosse o contrário. Talvez eu estivesse desaparecido há um tempão para ele. Ora, morremos todo dia para alguém. Em vida tenho sido defunto de muita gente faz tempo.
Pois o Padilha me liga pedindo uma ajuda. A ajuda era a seguinte: queria que eu guardasse em casa um sofá velho que lhe pertencera até então. Foi o seguinte: o homem comprou um novo sofá e não queria se desfazer do velho. Aqui vale uma explicação. Padilha é daquelas pessoas que se apegam às coisas. Sim, não se desfaz de nada antes de... se acostumar com o fato de que precisam se desfazer de algo.
Deixemos de fazer críticas subliminares ao amigo e vamos direto ao ponto: o homem queria, precisava, anelava a ajuda de alguém que guardasse seu velho e felpudo sofá. Afinal, várias garotas haviam sentado naquele baluarte. Quantas vezes fizera amor deitado com algumas delas naquela peça confortável e rechonchuda?... O Padilha era um safardana incorrigível... Dos outros pensava que ninguém presta; de si que, exceto ele... mais ninguém.
Ainda não é essa a questão que desejo abordar. O que quero é falar da ajuda. Sim, da ajuda que o amigo queria. Bem, comecemos por definir o que é uma AJUDA. Fui aqui ao pai de todos os burros e descobri, no melhor que pude julgar: ajuda é o contribuir para que outrem faça alguma coisa. Outras definições dão conta de favorecer, facilitar... e por aí vai.
Pois resolvi ajudar o Padilha: acolhi em meu lar seu bendito e confortável sofá depois de ter doado o meu para alguém que necessitava. Em suma, o dele tomou o lugar do que doei. Vejam que, doando o meu, a ninguém ajudei, já que não contribuí para que alguém fizesse alguma coisa. E contribuí: ajudei a alguém a ter onde sentar. Minha ajuda só foi possível por uma questão física que obedecia ao princípio de Arquimedes: “Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço”.
Fiz todo esse introito por uma única razão, e vou lhes contar. Foi o seguinte. Saí a beber um café com velhos e amados amigos. E eis que vinha dinheiro de cá, ia dinheiro de lá... o dinheiro atravessava a mesa daqui pra lá, de lá pra cá, e eu me via excluído desse trade fraternal. Depois de umas poucas perguntas e respostas incompletas, tudo se fez claro: estavam recolhendo recursos para ajudar um amigo comum. Resumamos a que não haja dúvida.
O amigo e sua família haviam sido vítimas de um assalto em que os bandidos “rasparam” tudo o de valor que havia em seu lar. A sorte foi a manutenção da integridade física de todos. (Antes de arrematar devo dizer que a vítima se considera o maior vendedor do planeta, o fodão, o cara, enfim...) De fato, o homem tem intacto seu cérebro de maior vendedor, seu físico perfeito, dois braços, duas pernas, visão e audição perfeitas... enfim: o amigo comum, vítima do assalto, perdeu apenas e tão somente a matéria. E os amigos ajudando o homem a... não fazer coisa nenhuma diferente do que ele já tem feito e que não está funcionando...
Ao me ver esclarecido de tudo, queriam saber: – “Queres participar?”. Respondi, incontinenti: –“Nem de brincadeira! Vai contra tudo aquilo em que acredito...!”
E assim continuamos... O sofá do Padilha está aqui comigo até hoje.

Um comentário:

  1. Meu Caro Amigo Fernando, com toda a sua verve contando estórias muito boas de amigos para amigos.

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