quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SURFISTA DE MAROLA E IMITAÇÕES BARATAS


          Com o perdão da franqueza, devo admitir: o escrito abaixo já completa quase um ano e só agora o surpreendi entre uma penca de rascunhos malcuidados e abandonados. Caberá algum complemento, digo, atualização logo mais? Março já se aproxima e, como vivemos à era dos aplicativos, é bem provável que , sim, faremos updates.
                                                                              ***
Corre o mês de março.
Eis que estou a me lembrar – é o mês em que faz aniversário o meu amigo Fábio Motta. Sim, comemora-se a festiva data ao dia 23 do corrente. Digo “festiva data” e já me arrependo. E por quê?, perguntará o leitor. O arrependimento é um sentimento que nos assalta quando agimos de forma errada e nossa consciência nos aponta a culpa. Ora, seria errado me arrepender de considerar o dia do aniversário do amigo uma data festiva? Já expliquei inúmeras vezes, mas vamos lá.
                Ocorre que entra ano e sai ano e o Motta faz tudo da mesma forma. E o que faz ele? Resposta – tranca-se em si mesmo ao dia de sua festa. Vejam que não afirmei que o homem se tranca em casa, ou some, ou desliga todos os meios de comunicação que lhe permitam o alcance. Não. Repito para que não reste a dúvida – o homem tranca-se em si mesmo. Ou seja, tranca-se em casa, some, desliga tudo, e... não sai da cama. É tudo junto. É como se o homem estivesse morto.
Diz o poeta que “morrer é apenas não ser visto”. Pois fica evidente a vontade de morte do amigo. Arrisco-me até a dizer que a coisa piora a cada ano. Ano passado o homem sumiu por três dias. Penso que estava tão apegado ao leito de morte que ao erguer-se teve um surto de articulações congeladas. Na toalete, olhando-se no espelho, assemelhava-se a um figurante de “Epidemia de Zumbis”, ou de “A Volta dos Mortos-Vivos”. Por um momento, em sua atual Síndrome de Peter Pan, julgou-se o ator principal de “Meu Namorado É Um Zumbi”. Outro dia escrevi que o pior suicida é o que não morre e, repito, o pior suicida é o que não morre.
Assim, em duas semanas veremos o que nos reserva o homem. Espera-se uma mudança radical em seu comportamento para esse ano. E por quê? Porque agora ele é um surfista. Um surfista de marola, é verdade, mas ainda assim um surfista.  
Certa vez falei aqui do Chico, meu amigo e compadre. Relatei então sua enorme vontade de virar barista. De cervejeiro passou a ser um apreciador voraz de café, conhecedor de todos os tipos de grãos e nuances dessa bebida tão popular. Num átimo tudo se fez claro – queria imitar o chefe, a quem muito admirava, este sim, um verdadeiro mestre sobre os temas do café. Vê-se, assim, o que o amor e a admiração são capazes de fazer – há quem queira ser como o ser amado e admirado. Passados uns poucos anos e o compadre abandonou o desejo de ser como o chefe. Seguramente não se esvaíram os sentimentos – o que sobreveio foi alguma maturidade, ou algum constrangimento, ou ambos. Afinal, mesmo para os que querem ser como o Peter Pan chega o dia da desilusão, quero crer.
Nosso Motta, assim como o Chico, por um lado seria um Peter Pan com a história do surf – há aí os “masters”, surfistas que assumem uma certa maturidade –, ao passo que, por outro lado, seria um velhinho desdentado e entrevado em artroses à proximidade da comemoração de seu natalício.
É aí que surge a seguinte pergunta inexorável: – afinal, a quem nosso Motta quer imitar quando se aproxima o 23 de março em seu retiro auto imposto? A resposta está na ponta da língua: – o homem quer imitar Madame Serjão! Sim, Fábio Motta que imitar o seu mui amado amigo Madame Serjão, vulgo Sérgio Moura! E logo faço uma ressalva, a que não digam que estou acusando o homem de “velho”: meu amigo Serjão está na flor da idade, uma potência indo e voltando, mais indo do que voltando ou mais voltando do que indo! Tanto faz!
O fato é que tenho como provar essa imitação barata, bastando para tal que leiam o relato incontestável sobre este hábito há muito cultivado por este outro varão vigoroso conhecido nas rodas sociais como Madame Serjão  (https://umhomemdescarrado.blogspot.com/2013/11/va-morrer-pra-la.html).
Eis aí esmiuçada a trama das imitações interpessoais de nosso pequeno ciclo de amigos fiéis, numa demonstração de amor fraternal e – por que não dizer? – de invejas contumazes e pouco originais. A propósito de tudo isso, no que a mim compete passo ao largo de todas elas e repito em alto e bom som: – vão morrer pra lá!

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