segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

TERAPIA MALUCA

Outro dia – na verdade já faz uns seis meses – escrevi sobre a terapia de casal que faziam Amorim e sua mulher. Concluí que seguiam na terapia porque persistia a doença – o casamento. Ora, conhecem alguém que faça terapia de casal sem ser casado? Eu não conheço. Se o sujeito e a mulher resolvem se embrenhar em consultório para fazer “terapia” é porque há doença.
Creio até que o querido casal continua ainda em sua deliciosa terapia. Sim, há de ter para eles um sabor especial. Certa vez perguntei à mulher de meu amigo: -“Faz terapia de casal?” Ela respondeu com um sorriso cheio de dentes e com olhos brilhantes: -“Claro! É uma delícia!” Fiquei pensando que tipo de lanche sua psicoterapeuta oferece a seus pacientes. Imaginei um desses sorvetes de chocolate suíço com cobertura de chantili, mesclado com pedaços de frutas caramelizadas. Confesso: a boca se me encheu d’água. Seria capaz de ir a várias dessas sessões só para ter a chance de provar daquele sorvete imaginário. Não suponho qual outra coisa poderia tornar uma terapia de casal tão deliciosa.
Não sei se à época eu disse, mas o fato é que a ex-minha mulher e eu também fizemos terapia de casal. O casal Amorim foi nosso conselheiro neste assunto. Garantiram: melhora o casamento. Não deu outra – dali a um mês nos separamos. E quando separamos acabou a terapia de casal. Isso era o que eu supunha. Mas qual não foi minha surpresa quando, encontrando por acaso a mulher de meu amigo, ela se mostrou desesperada ao saber de minha separação. Foi taxativa: - agora é que eu iria precisar mesmo! Não conseguia entender. Para mim a terapia não salvara o casamento porque a doença era muitíssimo grave. E, se era grave, que morresse sem demora o doente. Desde então passei a olhar com olhos enviesados as psicoterapias.
Eu disse ao início que Amorim e sua consorte fazem terapia? Fazem, mas agora de outro tipo: fazem terapia individual. Adoram ir ao psicoterapeuta. Pagam de cem a cento e vinte reais por sessão para lhes debulhar a vida e os pensamentos. E com que desvelo o fazem! Hoje cada um tem seu psicoterapeuta. Assim não há perigo de porem o terapeuta em situação delicada. Sabe-se lá o que cada um vai confessar! O terapeuta podia até enlouquecer. Não sei se já assistiram “Manhattan”, do Woody Allen, de 1979. Mary, a personagem de Diane Keaton, faz psicoterapia. Seu psicoterapeuta costuma ligar para ela às três da madrugada chorando. Não se resolve a si mesmo.
Um amigo querido me confessou certa vez: freqüentara um consultório de psicoterapia, por coincidência logo após ter seu casamento desfeito. E foi além: acabou por comer a psicoterapeuta, que se deixou encantar por seu drama e sua lábia de Giacomo Casanova. Não há de ter resolvido seus problemas, mas permanece solteiro até hoje.  
O que eu queria mesmo dizer é que não há como ver benefícios em psicoterapia. E nem peço perdão aos amigos e amigas que laboram nesta seara. Conheço pessoas que fazem psicoterapia há nem sabem mais quanto tempo, e não avançam um milímetro em seus distúrbios e inadaptações. Seguem sem se resolver, ou sem se assumir, ou sem aceitar a rejeição de que foram vítimas, ou sem encerrar conflitos, enfim; a vida corre e elas estão paradas esperando não sabem bem o quê. Enquanto isso seus terapeutas fazem igual ao da Mary (Diane Keaton): ligam para alguém as três da “matina” chorando inconsoláveis por seus próprios fantasmas.  
Outro dia o meu amigo Pinto me contava como resolveu sua frustração sobre determinado assunto. Dizia ele: -“Liguei o ‘foda-se’!” E me explicou que todos nós nascemos com uma teclinha no cérebro – o “foda-se” - que nos permite resolver os problemas que teimam em sentar-se ao lado. O que não tem remédio remediado está. Afinal, a única pessoa que se pode controlar no mundo é a si mesmo.
Como diria o meu querido amigo Paulinho Vasques: quer, quer; não quer, tem quem quer. E nem sei se isso tem algo a ver com o assunto. Mas vá lá, deixemos como está.         

Fernando Cavalcanti, 09.09.2010

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